quarta-feira, 23 de março de 2011

Religiosidade: Por que a praticamos?!



Podemos dizer que a religião é a atividade cultural mais antiga que existe, claro que se retirarmos  as atividades culturais ligadas à sobrevivência do indivíduo e da espécie, como a coleta e preparo de alimentos, proteção contra as intempéries, cuidados com recém-nascidos , instrumentos contra inimigos,  os quais,  vieram antes.

Mas, por que a religião é a atividade cultural mais antiga que existe?Porque sabemos que somos humanos quando passamos pela experiência de que somos conscientes das coisas, dos outros e de nós mesmos.  Sendo assim, se a consciência é a descoberta da nossa humanidade e só a descobrimos porque nos diferenciamos dos outros seres da natureza, graças à linguagem e ao trabalho, podemos atribuir ao fato de sermos dotados de consciência a condição e causa primeira do aparecimento da religiosidade.


A humanidade sempre percebeu regularidades na natureza e sabia que não era a causa delas, percebia que na natureza havia coisas úteis e nocivas, boas e ameaçadoras e via que não eram criados por ela.   Essa percepção de uma realidade independente da ação humana, de uma ordem externa e de coisas de que podemos nos apossar para uso ou que devemos fugir porque são destrutivas nos conduz  à crença em poderes superiores ao humano e com isso, a busca de meios para nos comunicar com eles para que sejam propícios a vida da humanidade, e  é assim que surge a crença nas divindades.

A consciência também é responsável pela descoberta da morte. Mas como assim? Quando notamos os principais traços da cultura, percebemos que nela e por ela os homens fazem a descoberta do tempo, ou seja, promovem uma diferenciação no interior de sua vida com respeito ao que já aconteceu e ao que está acontecendo.  Outro traço da cultura é o trabalho e ao trabalhar os homens se relacionam com um tempo que não é o presente e sim o futuro, pois o trabalho é feito para algo que ainda não existe no presente e que virá a existir  no futuro.  A memória, por sua vez, é responsável pela identidade pessoal e da continuidade de uma vida que transcorre no tempo.  Sendo assim, a percepção do tempo, o trabalho e a memória fazem com que os homens estabeleçam relações com o ausente: o passado lembrado, o futuro esperado.

Logo, o fato de que somos conscientes do tempo como uma presença (Presente ) situados entre ausências (o passado e o futuro) e que somos conscientes de  nossa identidade  e da identidade de nossas semelhantes nos leva a conceber  a permanência dessa identidade num tempo futuro , isto é,  nos leva a conceber  a existência futura, num outro  lugar ou num outro mundo, para onde vamos após a morte.   Esse outro mundo tanto pode ser um lugar separado, existente em um outro espaço e em outro tempo, como pode ser a parte invisível deste nosso mundo.  Todavia , a crença numa vida futura  explica por que uma das primeiras manifestações religiosas em todas as culturas são os rituais  fúnebres, o cuidado com os mortos (que não podem ser deixados sem sepultura) que asseguram sua entrada na vida futura, e a busca de meios para se comunicar com eles .

Portanto, a crença em divindades e numa outra vida após a morte  define  o núcleo da religiosidade e se exprime na experiência do sagrado.

Por Alexandre Amaral

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